Por: Helciane Angélica
O auditório do Teatro Sesi na Pajuçara ficou lotado na última segunda-feira (31.01) à noite, pessoas das mais variadas cores, idades e status sociais estavam lado a lado para prestigiar o 2º Festival de Palavras Pretas em Maceió-Alagoas. A atividade foi uma iniciativa da professora e publicitária Arísia Barros, que coordena o projeto Raízes de África, e em questão de “marketing étnico” dar show em muito ativista do movimento negro experiente.
No ambiente totalmente afro, com cores vibrantes, vários poemas foram recitados, de gente anônima e de personalidades negras; com versos exaltando a beleza, a luta e a resistência negra, inclusive, interpretados por crianças. A ocasião, também foi propícia para a entrega do troféu “Honra ao Mérito Guerreiro Quilombola 2010” – uma parceria com a Comunidade de Remanescente de Quilombo Pau D’Arco no município de Arapiraca/AL – para pessoas que contribuíram, financeiramente ou não, no desenvolvimento das ações do projeto Raízes de África.
Cerca de 20 pessoas foram agraciadas, dentre elas a jornalista Valdice Gomes, mas o curioso é que no evento afro, ela foi a única mulher negra homenageada e tinha poucos afro-descendentes homenageados. Valdice é reconhecida na categoria por sua integridade, profissionalismo, simplicidade e grande parceira que atualmente é Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Alagoas (Sindjornal), ajudou a fundar a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (COJIRA-AL) e ainda participa da articulação nacional unindo-se a outros representantes sindicais que atuam nesses coletivos; também faz parte do Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô que é vinculado aos Agentes de Pastoral Negros do Brasil (APNs), e recentemente, foi empossada como Conselheira do CNPIR-Seppir em Brasília.
Outro momento de destaque no evento foi o pronunciamento do ator Milton Gonçalves, convidado de honra, que fez questão de falar um pouco sobre a sua trajetória profissional, as descobertas em suas viagens por países da África e os vários casos de discriminação que passou ao longo da vida. Destacou que já foi impedido de entrar em um ambiente porque era negro, lembrou da Lei Afonso Arinos, mas ela não surtiu efeito e o ódio cresceu dentro dele, disse que sua revolta foi controlada quando começou a estudar mais e frequentar uma livraria que lhe proporcionou um salto cultural: “Essas contradições devem ser combatidas com sutileza e não com violência”.
Também aproveitou para fazer críticas. “Eu trabalho na Globo há 45 anos, mas o problema que tem é que falta demanda para os negros. Eu nunca deixei de brigar, de resistir e se estou até hoje lá é porque tenho algum mérito. Mas, se nós negros nos sentimos ofendidos e machucados com alguma prática ou algum produto, não consuma esse produto, não dê visibilidade a ele. Vamos protestar, vamos nos unir! Nós somos metade da população, e não estamos no cartão postal desse país!”, declarou.
Ele também foi homenageado pela Assembleia Legislativa de Alagoas, por intermédio do Deputado Judson Cabral, com a Comenda Zumbi dos Palmares que era para ter sido entregue em novembro, mas bem que deveria ter colocado em uma moldura, o papel estava amassado, senti vergonha. No encerramento, Arísia agradeceu aos presentes e demonstrou que pretende ousar ainda mais, anunciou oficialmente que em breve terá o Instituto de Estudos Étnicos e de Gênero Maria Preta, inclusive, com hotsite. Agora, quem segura essa mulher?! Boa sorte e axé!
Fonte: Coluna Axé / Jornal Tribuna Independente (08.02.11)
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