O carnaval é uma das festas mais ricas em termos de diversidade cultural, ainda mais, no Brasil que é um país de dimensões continentais! Além de ser extremamente popular, podemos dizer que é um dos mais democráticos, para todos os gostos e estilos: samba, pagode, swingueira, maracatu, marchinhas, frevo e axé.
E nesse ano, o que chamou a atenção foi a quantidade de escolas de samba que retrataram manifestações afro-culturais e ícones negros nos seus sambas-enredos. Em São Paulo, além da campeã Mocidade Alegre que abordou sobre as obras de Jorge Amado através do tema: "Ojuobá - No Céu, os Olhos do Rei... Na Terra, a Morada dos Milagres... No Coração, Um Obá Muito Amado!, também teve: Acadêmicos do Tucuruvi com "O esplendor da África no reinado da folia", e a Mancha Verde, com "Pelas mãos do mensageiro do axé a lição de Odú Obará: A humildade".
Já no Rio de Janeiro, a vencedora Unidos da Tijuca homenageou o Rei do baião, Luiz Gonzaga, o sanfoneiro negro que é um ícone da música nordestina. Também teve: a Beija-Flor sobre "São Luís - O Poema Encantado do MARANHÃO", a Vila Isabel, "Você Samba Lá .... Que Eu Sambo Cá! O Canto Livre de Angola". Destacamos ainda, que a escola de samba Acadêmicos de Vigário Geral, do Rio de Janeiro (setor de acesso), homenageou o ativista Abdias Nascimento no carnaval de 2012. Líder negro, pioneiro na luta pelos direitos dos afrodescendentes brasileiros, que faleceu em maio de 2010.
Outra bela referência foi para a sambista Dona Ivone Lara, que teve sua história contada pela Escola de Samba Império Serrano. Com o tema “Dona Ivone Lara – O enredo do meu samba” citou os desafios e preconceitos enfrentados pela primeira mulher compositora de enredos de carnaval, e a primeira a ganhar uma disputa de samba-enredo e a integrar a ala de compositores de uma escola de samba, em 1965.
E na cidade de Salvador (BA), no circuito de carnaval, os principais blocos afros levaram para as ruas temas relacionados à cultura afro-brasileira, como: religiosidade e educação com foco nas matrizes africanas, além da dor do preconceito, do racismo e da homofobia. O Ilê Aiyê apresentou o tema “Negros do Sul” exaltando a cultura negra presente nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O afoxé Filhos de Gandhy abraçou o tema do combate à violência contra a mulher no Carnaval 2012, fortalecendo a campanha pela igualdade de gênero e divulgação da Lei Maria da Penha.
E em Alagoas, foi muito bom ver o fortalecimento dos blocos afros e maracatus, além da reflexão sobre o Centenário do Quebra de Xangô realizado pelo Grêmio Recreativo Escola de Samba de Samba Girassol. O carnaval brasileiro tem mostrado que é possível se divertir e, também, protestar! Que venha outros! Axé!
Fonte: Coluna Axé -nº190 - jornal Tribuna Independente (28.02.12)