A cerimônia de posse do Comitê Gestor Estadual do Plano Nacional
Juventude Viva, ocorrida na quarta-feira da semana passada, na sala dos
Conselhos do Palácio República dos Palmares, com a presença do
governador Teotonio Vilela Filho, representantes do governo federal e do
ator Darlan Cunha, o “Laranjinha” da série Cidade dos Homens, foi
marcada por um ato de repúdio da juventude negra alagoana contra a
negligência do Estado diante do genocídio de jovens negros e negras em
Alagoas.
Durante a solenidade, o representante do Movimento
Negro no comitê, Denivan Costa de Lima (Dênis Angola), emocionou a
plateia, com a leitura da Moção de Repúdio Por uma juventude negra
alagoana viva (em memória de Guto Bandeira). A nota foi uma demonstração
da revolta e indignação da comunidade negra alagoana, especialmente, a
juventude negra, com a morte brutal de Gutemberg Cassimiro Bandeira, o
Guto, um jovem negro, músico, dançarino, capoeirista e educador,
assassinado no Cruzeiro do Sul, no último dia 05, com seis tiros na
cabeça.
Com palavras fortes, a Moção apontava que a juventude
negra de Alagoas está em luto, não apenas por Guto Bandeira mas, também,
“pela negligência dos gestores, e ao que podemos chamar de incentivo ao
genocídio de jovens negras e negros”. Prossegue o texto: “Quando se
mata jovens negros em Alagoas, quase nunca pensamos que foi o extremo da
violência, quase nunca pensamos que existem níveis de violência e que
estes níveis tem cor, gênero, classe social e idade”. Cita casos de
atuação desastrosa e preconceituosa da polícia, e apresenta fatos
históricos de como sempre foram tratados os negros em Alagoas: “em 1655 o
genocídio no Quilombo dos Palmares (União dos Palmares); 1832, a
insurreição com os mucambeiros Papa-méis, na região do litoral
(Maragogi); 28 de Abril de 1876 a última pena de morte no Brasil,
escravo Francisco (Pilar) e em 1912, a operação chamada de “Quebra de
Xangô” (Maceió), todos estes fatos marcados historicamente pela
violência à cultura negra”.
A moção cobra investigação da morte
de Guto Bandeira. Mais que isso, exige ações concretas contra o
genocídio da juventude negra em Alagoas. “Não podemos tratar Guto
Bandeira como mais um, nem tampouco justificar seu assassinato como
comum, assim como outros assassinatos se tornaram comuns aos olhos de
nossa sociedade e justificáveis até pelos atos extremos”. Por fim,
questiona o comportamento da mídia. “O que nos causa espanto é o
silêncio da imprensa alagoana, o que nos causa espanto é a mídia
simplesmente tratar como comum.
Para esta imprensa e para esta
sociedade deixamos algumas perguntas: e se fosse no bairro da Ponta
Verde? E se o jovem morto fosse filho do governador, filho de um Juiz,
filho de um delegado, um médico?”. Esperamos que a Moção de repúdio,
autêntica representação do sentimento da população negra alagoana diante
da indiferença, do descaso e do preconceito, sirva de reflexão para os
setores questionados.
Fonte: Coluna Axé - nº239 - Jornal Tribuna Independente (26.02.13)
Editora interina: Valdice Gomes
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