terça-feira, 8 de abril de 2014

Jornalistas e igualdade racial

O dia 02 de abril de 2014 tornou-se um marco histórico para a categoria profissional de jornalistas, pela primeira vez, ocorreu o Encontro Nacional dos Jornalistas pela Igualdade Racial (1º Enjira) em Maceió. O evento integrou a programação do 36º Congresso Nacional de Jornalistas, que foi promovido pela Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) e o Sindjornal, além de contar com apoio da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR/PR).

Estiveram reunidos jornalistas e acadêmicos(as) e convidados(as) afrodescendentes e aqueles identificados(as) com a luta pela igualdade racial de todo o país, para discutir o tema “Os jornalistas e a Construção da Igualdade Racial na Mídia”. Teve como resultado a aprovação de 12 propostas prioritárias que foram divididas nos eixos de formação profissional, atuação sindical e democratização da comunicação. São elas:

1. Orientar os sindicatos dos jornalistas do Brasil que negociem em seus acordos coletivos para que seja garantida a cota de 20% de negros e negras nas contratações das empresas de comunicação;
2. Que a Fenaj e os sindicatos garantam que o Enjira seja realizado periodicamente a cada dois anos;
3. Realizar ampla pesquisa nacional etnicorracial para identificar os(as) jornalistas negros(as) que estão dentro e fora do mercado de trabalho;
4. Fazer uma moção de apoio ao projeto de lei que define o percentual de 20% de cotas raciais nos concursos públicos, incluindo os cargos em comissão;
5. Que os sindicatos atuem para o cumprimento da convenção 111 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que trata da discriminação nos locais de trabalho;
6. Que a Fenaj recomende aos sindicatos a solicitação de Termos de Ajustamento de Conduta (TAC) ao Ministério Público do Trabalho, com objetivo de responsabilizar empresas de comunicação quanto à discriminação etnicorracial em sua cobertura editorial, em especial nas editorias de polícia;
7. Que a Fenaj recomende aos sindicatos que garantam pelo menos uma vaga para delegado(a) representando a Cojira de cada estado nos congressos de jornalistas;
8. Propor parcerias com instituições internacionais, universidades, governos, entre outros, para novamente ofertar o curso de gênero, raça e etnia para jornalistas;
9. Atuar para a inclusão da temática etnicorracial no currículo acadêmico das faculdades de jornalismo;
10. Ampliar a produção científica das Cojiras e do Núcleo de Jornalistas Afrobrasileiros;
11. Reivindicar que a Secretaria de Comunicação (Secom), da Presidência da República, destine parte de suas verbas para o financiamento da mídia negra;
12. Que a Fenaj faça uma pesquisa crítica e nacional cerca da cobertura etnicorracial realizada pelos meios de comunicação no Brasil.

E a luta continua... por respeito e justiça social em todos os setores. Axé!


Participantes do 1º Enjira fortalecem a discussão sobre igualdade racial e mídia (Foto: Yvette Moura)


Congresso 1
Após 36 anos, o Estado de Alagoas realizou o 36º Congresso Nacional de Jornalistas com o tema central: “O Jornalismo, o Jornalista e a Democracia”. A temática étnicorracial e o combate do racismo nos meios de comunicação foram discussões sempre presentes, inclusive, teve a palestra “O Jornalismo e as políticas afirmativas para a consolidação do estatuto democrático” ministrada por Edson Cardoso – assessor especial da Ministra Luiza Bairros (Seppir) – que ressaltou a hierarquização do humano, a estigmatizarão e a prática da democracia meia-boca no Brasil. “A diversidade contribui para a excelência, mas, o racismo estrutura a nossa sociedade. Ao pensar em democracia, não podemos conviver com uma ideologia onde afirma que por causa da aparência, um é melhor que o outro. (...) A pluralidade de vozes deveria ser o sustentáculo da democracia”, ressaltou. 



Congresso 2
Também teve a leitura da Carta da Igualdade de Maceió, a aprovação de uma tese para que a Fenaj e todos os sindicatos ampliem a campanha de inclusão e atualização da autodeclaração étnicorracial nas fichas cadastrais de jornalistas; além de uma moção de repúdio à apresentadora Ana Maria Braga (Programa Mais Você/Rede Globo), que no dia 03 de abril, ao divulgar uma receita popularmente conhecida como “Nêga Maluca”, usou tom jocoso e irônico para afirmar que existiria uma nova nomenclatura: “mulher afrodescendente com distúrbio mental”. Piada sem graça!




Congresso 3
Outro ponto importante foi a apresentação do Afoxé Odo Iya durante o café com cultura, além do show do cantor Igbonan Rocha e o grupo samba de nego na festa de encerramento do congresso nacional de jornalistas. Também ocorreu a realização de um passeio étnicorracial na Serra da Barriga em União dos Palmares para jornalistas comprometidos com a igualdade racial. A atividade também conhecida por “Palmares in loco” reuniu profissionais de sete estados (CE, GO, MG, SP, RJ, RS e o Distrito Federal), é um projeto do Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô que conta com as explanações de Helcias Pereira – coordenador nacional dos APNs e membro do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR).


Fonte: Coluna Axé - 292ª edição – Jornal Tribuna Independente (08 a 14/04/2014) 
Editora: Helciane Angélica / Contato: cojira.al@gmail.com

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