terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Os vários quebras

O Quebra de Xangô, infelizmente, deixou marcas intensas e continuam latejando até os dias atuais com diferentes formas de perseguição e opressão. Em 1912 existia uma milícia conhecida por Liga dos Republicanos Combatentes – agremiação política que fazia oposição ao governador da época, Euclides Malta – realizava as invasões, espancamentos e prisões dos adeptos das religiões de matrizes africanas.

Para manter viva a crença, precisava silenciar os tambores, disfarçar ou fugir para outros Estados. Porém, de acordo com o historiador e babalorixá Célio Rodrigues (Pai Célio) o culto ao orixá foi proibido em todo o Brasil no ano de 1957, durante o governo do Presidente Getúlio Vargas, e cada governador adotou a sua metodologia para cumprir a determinação. 

Em Alagoas, era necessário que cada terreiro solicitasse um alvará de funcionamento e comunicar à Polícia (DOPS); os toques aos orixás só podiam ser realizados aos domingos das 16h às 19h, e caso o horário fosse burlado, podia ocorrer a invasão a qualquer momento, os instrumentos eram recolhidos e a casa suspensa; nas vistorias, o juizado de menores também acompanhava a polícia para impedir a participação das crianças, e caso fosse comprovada a iniciação à religião, ou estivesse dançando ou cantando, o terreiro também era multado.

O tempo passou e apesar dos inúmeros mecanismos para combater essas formas de violência, a hostilidade permanece forte! A advogada do Movimento da Articulação de Matriz Africana de Alagoas, Kandysse Melo, destacou que é preciso denunciar os crimes de intolerância e ódio, e reivindicar o comprometimento do Judiciário e o Poder Público para o cumprimento da lei. Ela denunciou que no ano de 2016 ocorreram vários atentados aos terreiros, inclusive, uma ekede foi atingida por arma de fogo durante uma festividade na casa de axé; um ogan foi demitido de uma escola particular por cultuar os orixás; além dos insultos por usar suas guias, turbantes e roupas brancas às sextas-feiras (dia em homenagem ao orixá).

A nossa religião representa fé e axé, e se não fosse assim a gente hoje não estaria ocupando os espaços do Governo e as secretaria para falar da nossa religião e usar nossas vestes. Nós temos que lutar para a nossa religião esteja no mesmo nível de igualdade com as outras religiões. Vamos nos unir para alcançar dias melhores”, exaltou Mãe Mirian, a sacerdotisa da religião de matriz africana de Alagoas mais respeitada da atualidade.

Atualmente, as casas de axé seguem três vertentes de atuação: religiosa, cultural e social. Também estão investindo na formação, valorização do pertencimento étnico e participando dos espaços de controle social para a reivindicação de políticas públicas. O terreiro merece respeito e a luta contra a intolerância religiosa continua! Os tambores ainda ecoam e a esperança para a perpetuação do axé continua viva, bem viva! Axé!


Fonte: Coluna Axé – 429ª edição – Jornal Tribuna Independente (07 a 13/02/17) / COJIRA-AL / Editora: Helciane Angélica / Contato: cojira.al@gmail.com

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