sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Mais um caso de violência

A Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial em Alagoas (Cojira-AL) divulgou no seu blog, a violência sofrida por um funcionária negra dentro do Supermercado GBarbosa na última quinta-feira (22.12), localizado no bairro da Cruz das Almas em Maceió. Cássia da Silva Nicandio, 37, foi covardemente agredida por outro funcionário chamado James das Neves Bernardes no local de trabalho.

Segundo a vítima, James era uma pessoa reservada e tranquila, mas nos últimos dias estava sendo grosseiro com todos, inclusive, com a encarregada do setor. “Eu fui conversar para saber o que estava acontecendo, ele tinha faltado e perguntei se estava doente, se estava tudo bem. Ele disse que tinha todas as doenças do mundo e que ninguém do trabalho acreditava”. Cássia terminou perguntando se aquilo era destinado a ela, e aos gritos James respondeu: “se a carapuça serviu o problema é seu”. Diante da resposta ríspida, pediu para abaixar o tom de voz porque estava dentro da loja e foi quando ele partiu para cima, ela se protegeu com um empurrão e depois foi atingida com uma lata de refrigerante na cabeça.

A partir daí, as agressões se multiplicaram sobre os olhares de outros funcionários e clientes. James tentou dar uma “gravata” no pescoço, jogou-a no chão, deu socos e pontapés, enquanto, as pessoas gritavam pedindo para parar e tentavam afastá-lo. Com a chegada do gerente, o ataque cessou e os demais funcionários queriam linchá-lo, mas, ele foi conduzido para o setor pessoal onde ficou um tempo, deixou seu atestado médico, e em seguida liberado.

A polícia não foi acionada para registrar o caso em flagrante e com a demora da SAMU, a vítima saiu desacordada em um carro de um amigo e foi atendida em um hospital particular. Posteriormente, seguiu para a 1ª Delegacia Especializada no Atendimento a Mulher; onde fez o boletim de ocorrência e depois foi até o Instituto Médico Legal (IML) fazer o exame de corpo de delito.

De acordo com a Assessoria de Comunicação da Rede GBarbosa em Alagoas, o funcionário foi demitido por justa causa e informou que o gerente não poderia mantê-lo na loja contra a sua vontade até a chegada da polícia, porque poderia se configurar como cárcere privado. Também informou que a empresa está ajudando no tratamento de saúde (paga metade do plano de saúde) da vítima e está à disposição dela para o que for preciso. Neste momento, Cássia caminha com dificuldades devido ao inchaço na perna e dores no corpo, e afirma está se sentindo envergonhada com o que aconteceu.

Para o advogado que acompanha o caso, Alberto Jorge Ferreira dos Santos, que é Presidente da Comissão de Defesa das Minorias Étnicas e Sociais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-AL) a vítima encontra-se em estado de choque e sem condições de exercer suas funções no local, por isso, entrará com uma ação de rescisão indireta de contrato de trabalho, e considera que a empresa foi omissa na hora e pode acarretar em danos morais. A primeira audiência na Delegacia das Mulheres ficou agendada para o dia 06 de fevereiro de 2012, às 8h30, onde a vítima terá que levar duas testemunhas e o agressor também será ouvido pela delegada Paula Mercês da Silva. Independente de quem seja a vítima, se é negra ou branca, pobre ou rica... violência contra a mulher é crime e não pode ficar impune. Chega de opressão!


REPÚDIO
Para a ativista do movimento negro alagoano, Filomena Felix Costa – Presidenta do Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô, entidade vinculada aos Agentes de Pastoral Negros do Brasil (APNs), onde Cássia Nicandio também é integrante – sua amiga foi duplamente agredida. “Foi um absurdo o agressor não ter sido preso em flagrante. Se fosse uma cliente que tivesse sido espancada, ele seria liberado? E se fosse alguém que estivesse roubando a loja, mesmo que fosse um confeito também seria liberado? Onde estavam os seguranças? Esse caso não pode ser esquecido, temos que denunciar na mídia porque a empresa foi conivente durante o momento e também por se tratar de uma mulher humilde e negra, que foi humilhada e teve seus direitos violados”, exaltou.

A Direção Nacional dos APNs também se manifestou por meio de uma nota pública, onde declara que: “Os APNs continuará empenhados na luta pela justiça e pela paz porque acredita na dignidade da pessoa humana e na solidariedade entre os povos e lembra: a impunidade é uma das causas do aumento da violência. Manifestamos, mais uma vez, nossa solidariedade a companheira Cássia da Silva Nicandio, acreditando que as mulheres negras, continuem perseverantes, fiéis aos objetivos da nossa entidade que é lutar contra toda forma de discriminação e injustiça social e moral”.


Fonte: Coluna Axé - nº182 - jornal Tribuna Independente (27.12.11)

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