quinta-feira, 8 de julho de 2010

Os meios de comunicação e os segmentos afro-culturais

"Nossa capacidade de comunicação não é medida pela forma como dizemos as coisas, mas pela maneira como somos entendidos." (Andrew S. Grove)

Artigo escrito por: Helciane Angélica Santos Pereira (*)

A Liberdade de expressão é um dos direitos humanos exaltados e garantidos pela Constituição Brasileira, porém, quando pensamos nos grandes meios de comunicação (TV, rádio, jornal e agências de notícias online) o que observamos é a “liberdade de empresa”. Os jogos de interesse e a supremacia dos donos prevalecem, afinal, por trás de todas as decisões estão políticos e/ou pessoas influentes com muitos recursos financeiros, por isso tamanha é a dificuldade de ter conteúdos que realmente contribuam para a transformação social e respeitem à diversidade racial, crenças e de gênero.

Em Alagoas, desde o dia 24 de novembro de 2007, com a implantação da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-AL) no Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Alagoas (Sindjornal), a categoria e a população começaram a ver às questões étnicorraciais com outros olhos. O grupo foi o primeiro da região Nordeste e o quinto nacionalmente, e aos poucos tornou-se uma referência entre os demais coletivos existentes: o Núcleo de Comunicadores Afro-Brasileiros do Rio Grande do Sul e as Cojiras dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Bahia e Paraíba.

No início tinham apenas cinco pessoas, atualmente são dez integrantes, mas as portas estão sempre abertas para mais jornalistas e acadêmicos interessados em debater a história da Imprensa Negra e os efeitos do racismo midiático. Juntos, buscamos a interlocução entre os meios de comunicação e os segmentos afros, além de garantir a ampliação no número de pautas sobre a conjuntura da população afro-descendente e contribuições artísticas. Porém, os nossos principais desafios, sem dúvidas, são a sensibilização dos profissionais sobre a temática; a avaliação crítica sobre a existência do racismo e assédio moral nas redações; além da conscientização para a não-utilização dos termos racistas nos veículos de comunicação.

É necessário avançarmos mais, o movimento social negro deve se impor, investir sempre na sua organização e na divulgação das ações político-culturais. Chega de ficar escondido nas periferias e nas reuniões, devemos investir na comunicação seja com um simples panfleto ou na utilização das inúmeras mídias sociais (blog, orkut, twitter, myspace), enfim, investir nos meios alternativos. As atividades são inúmeras e vários grupos realizam ao mesmo tempo, mas, na maioria das vezes elas passam despercebidas entre os ativistas, imagine na Imprensa?! Precisa-se romper as barreiras dos grandes meios de comunicação, mostrar nosso potencial durante o ano todo, afinal, não existimos apenas nas datas temáticas do dia 13 de maio e 20 de novembro.

Precisamos também nos capacitar e lutar para conquistarmos os espaços de poder nos mais diversos setores da sociedade. Os coletivos que discutem às questões étnicorraciais no movimento sindical são aliados importantes, mas sabemos da necessidade de cooperar ainda mais para dar a visibilidade que o povo afro-brasileiro merece! Os negros e negras contribuíram para a formação deste País, agora, almejam novos avanços e devem se unir para termos políticas públicas eficientes, oportunidades iguais de trabalho, liberdade de culto, justiça e respeito! Axé!

(*) Formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) no ano de 2007; Editora da Coluna Axé desde 13 de maio de 2008, veículo semanal publicado toda terça-feira no jornal Tribuna Independente; Integrante da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial em Alagoas (Cojira-AL); e Presidenta do Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô, entidade associada aos Agentes de Pastoral Negros do Brasil (APN’s).

Fonte: jornal alternativo Odô Iyá, edição de maio de 2010 – uma produção da Casa de Iemanjá localizada em Maceió-AL, onde também possui o primeiro Ponto de Cultura no Brasil que foi instalado dentro de um terreiro.

Saiba mais: www.casadeiemanja.hpg.com.br.

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